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Teatro do Absurdo: Características, Peças e Exercícios

  • Foto do escritor: Janaina Cicari
    Janaina Cicari
  • 13 de set. de 2023
  • 5 min de leitura

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O Teatro do Absurdo é uma corrente dramática que surgiu no século XX e revolucionou a forma como vemos o palco. Marcado por narrativas desconcertantes e situações que desafiam a lógica convencional, o Teatro do Absurdo transcende as fronteiras da realidade e questiona a própria essência da existência humana.


Neste blog post, exploraremos as características distintivas, algumas peças notáveis, exemplos inspiradores e até mesmo alguns exercícios de teatro do absurdo.


O que é o Teatro do Absurdo?


O Teatro do Absurdo surgiu no pós-guerra, como resultado da atmosfera de desolação gerada pela Segunda Guerra Mundial. A Europa fraturada enfrentava problemas de incomunicabilidade e solidão e o Teatro do Absurdo buscou traduzir essa fratura social em montagens marcadas pela união um tanto inesperada entre o trágico e o cômico.


Ao contrário de outros movimentos artísticos organizados, a terminologia Teatro do Absurdo foi cunhada pelo crítico húngaro Martin Esslin. Segundo sua própria definição,


“O teatro do absurdo se esforça por expressar o sentido do sem sentido da condição humana, e a inadequação da abordagem racional, através do abandono dos instrumentos racionais e do pensamento discursivo e o realiza através de 'uma poesia que emerge das imagens concretas e objetificadas do próprio palco”.


Características do Teatro do Absurdo


As principais características do teatro do absurdo são ligadas à exploração do inconsciente, da alienação, da desconexão, falta de propósito e significado e desafio à lógica convencional. A falta de cenário ou de linha de tempo narrativa também são marcas desse tipo de teatro, que muitas vezes carecem de progressão clara.


1. Desafio à Lógica Convencional


Uma das características mais marcantes do Teatro do Absurdo é o desafio constante à lógica convencional. As peças frequentemente apresentam narrativas fragmentadas, diálogos incoerentes e situações que desafiam qualquer tentativa de compreensão linear.


2. Personagens Alienados e Desconectados


Os personagens no Teatro do Absurdo frequentemente são retratados como seres alienados e desconectados, incapazes de se comunicar eficazmente uns com os outros. Suas ações muitas vezes parecem sem propósito ou significado.


3. Exploração do Inconsciente

O Teatro do Absurdo muitas vezes se aventura nas profundezas do inconsciente humano, revelando ansiedades, medos e desejos reprimidos por meio de metáforas e simbolismo.


4. Comicidade desconcertante


O humor é uma ferramenta comum no Teatro do Absurdo, mas é frequentemente usado de maneira sombria e irônica para destacar a futilidade, a irracionalidade e o absurdo da existência humana.


5. Falta de marcos de tempo e espaço


Muitas vezes não há cenário ou linha do tempo específicos em peças absurdas. O cenário pode estar em qualquer lugar, a qualquer hora ou em lugar nenhum, ilustrando a noção de que a condição humana é universal e atemporal.


Principais peças do Teatro do Absurdo


Com certeza, os dois títulos mais conhecidos de Teatro do Absurdo são Esperando Godot, de Samuel Beckett (considerado também o pai do Teatro do Absurdo), e A Cantora Careca, de Eugène Ionesco. Podemos citar como exemplos relevantes também O Jogo das Cadeiras, de Augusto Boal, e A Lição, de Ionesco.


Cada uma dessas peças, em seu estilo único, oferece uma visão profunda e muitas vezes perturbadora da condição humana, explorando o absurdo que pode ser encontrado nas situações mais mundanas. Elas nos convidam a questionar o significado da vida, a natureza da comunicação e a validade das normas sociais, desafiando-nos a reconsiderar o que consideramos "normal" no teatro e na vida.


"Esperando Godot" - Samuel Beckett:


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Sandra Dani e Janaina Pellizzon na montagem de Esperando Godot de Luciano Alabarse. Foto de Anselmo Cunha.

Uma das peças mais icônicas do Teatro do Absurdo, "Esperando Godot" apresenta dois personagens que passam o tempo esperando por alguém chamado Godot, que nunca aparece. A peça explora temas de espera, futilidade e alienação. Essa espera aparentemente sem sentido é uma metáfora poderosa para a experiência humana, onde muitas vezes estamos à espera de algo que pode nunca se materializar — um sentimento muito presente no contexto de pós-guerra já apresentado.


A peça também é carregada de elementos religiosos, já que o nome "Godot" lembra a palavra "God" (Deus, em inglês), e a narrativa cíclica dos personagens sugere uma sensação de purgatório ou repetição eterna.


"Esperando Godot" desafia a audiência a refletir sobre temas como a espera, a futilidade e a alienação, enquanto os personagens buscam significado em um mundo que parece destituído de propósito.


"A Cantora Careca" - Eugène Ionesco:


A peça se passa em um ambiente doméstico aparentemente comum, mas rapidamente se desintegra em um caos hilariante. Os diálogos dos personagens são incoerentes e frequentemente não levam a lugar nenhum, revelando a incapacidade da comunicação humana em transmitir significado.


A peça satiriza a superficialidade da sociedade, questionando a validade das convenções sociais e das normas de comportamento. Os personagens, enquanto lutam para se comunicar, expõem as contradições e os vazios da existência cotidiana, transformando situações triviais em um espetáculo de absurdos.


O Jogo das Cadeiras" (1955) - Augusto Boal:


Augusto Boal, famoso por suas contribuições ao teatro político e à pedagogia teatral, também explorou o Teatro do Absurdo em "O Jogo das Cadeiras". Nesta peça, Boal utiliza o absurdo para criticar a burocracia e a alienação na sociedade.


A história gira em torno de personagens que participam de um jogo de cadeiras aparentemente trivial, mas à medida que a peça avança, a situação se torna cada vez mais absurda e opressiva.


A peça serve como uma crítica contundente às estruturas sociais que limitam a liberdade e a individualidade, revelando como a burocracia e as normas sociais podem ser alienantes.


"A Lição" (1950) - Eugène Ionesco:


"A Lição" é outra obra do renomado autor Eugène Ionesco e mergulha profundamente no mundo do absurdo. A peça narra a história de uma aula particular onde uma professora tenta ensinar a seu aluno, mas a comunicação entre eles rapidamente se deteriora, resultando em um desastre cômico.


A peça aborda temas como autoridade, comunicação e a natureza arbitrária das normas sociais. Ela desafia a ideia de que a educação e a autoridade são intrinsecamente racionais, expondo como a linguagem pode ser ambígua e manipulada para servir a interesses ocultos.


Exercícios de Teatro do Absurdo


Se você chegou até aqui, certamente tem grande interesse no Teatro do Absurdo. Esse é um dos temas que tratamos com profundidade nos nossos cursos de Formação de Atores, mas existem alguns exercícios simples que você pode fazer sozinho ou com amigos para começar a mergulhar neste universo.


1. Crie um Diálogo Absurdo


Reúna um grupo de colegas e improvise um diálogo que desafie a lógica. Tente incorporar elementos inesperados e não sequenciais em sua conversa. Esse exercício é muito parecido com os de improviso: é interessante para qualquer tipo de artista, iniciante ou profissional, porque incita a criatividade e pode servir para criar motes inesperados em produções e montagens.


Caso você não tenha um grupo de amigos para te acompanhar, você pode pensar nesse exercício como um exercício de escrita e dramaturgia. Crie dois personagens e um diálogo absurdo. Você pode até mesmo gravar-se interpretando os dois papéis e observar seu desempenho!


2. Escreva uma Cena Sem Lógica Aparente:


Desenvolva uma cena em que a lógica convencional não tenha lugar. Explore o absurdo e veja como isso afeta a dinâmica dos personagens.


Aqui, a cena não precisa ter um diálogo. Explore o corpo e como ele manifesta as intenções do ator e do personagem. Uma dica é sortear elementos aleatórios como: uma ação, um sentimento e um acontecimento. Quanto mais absurdo parecer a relação entre esses elementos, mais divertida vai ser sua construção!


3. Analise Detalhadamente uma Peça Absurda:


Escolha uma peça do Teatro do Absurdo, como "Esperando Godot" ou "A Cantora Careca", e analise cada aspecto, desde os personagens até os diálogos, em busca de significados ocultos e interpretações.


Compartilhe com a gente o que você encontrar de interessante, marcando nosso perfil @contatoespacodoator.


Conclusão


O Teatro do Absurdo é uma jornada fascinante rumo à essência da existência humana, onde a lógica convencional cede espaço à reflexão profunda e à exploração do inconsciente.


À medida que você se aprofunda nesse mundo teatral intrigante, lembre-se de que a verdadeira beleza do Teatro do Absurdo está em sua capacidade de nos desafiar a questionar o que consideramos normal e lógico.


Em última análise, o teatro como um todo colhe frutos do uso do absurdo: o improviso e a criatividade têm origem nesse mesmo lugar.

2 comentários


joseduartealmeida6
16 de set.

É deveras impressionante como esta sinopse alargada foi tão esclarecedora sobre o tema do absurdo. Menos rica na questão do niilismo.

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Maite Paton
Maite Paton
28 de jan.

Gostei muito do conteúdo, gostaria de saber quem escreveu

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